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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Novos sinais de agravamento da crise do capitalismo nos Estados Unidos

Mais de 6 milhões de pessoas recebem o benefício. Venda de imóveis usados recuou 3% em março. Produção industrial caiu 20% no primeiro trimestre. Empresas amargaram queda de 85% nos lucros em 2008.

Alguns indicadores econômicos divulgados ao longo desta semana sinalizam que a crise do capitalismo norte-americano ainda não atingiu o fundo do poço e continua se agravando. O principal deles diz respeito ao desemprego. O número total de norte-americanos que recebem auxílio-desemprego na maior economia capitalista do mundo saltou 93 mil, alcançando 6,137 milhões na semana encerrada no dia 11 de abril. É o maior nível desde que o governo dos EUA começou a acompanhar os pedidos, em 1967.

A taxa de desemprego referente aos trabalhadores com direito ao benefício e que recebem o auxílio-desemprego aumentou 0,1 ponto porcentual, para 4,6%, o maior nível desde janeiro de 1983. Já o número de trabalhadores norte-americanos que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio-desemprego nos EUA aumentou em 27 mil na semana encerrada no último sábado (dia 18), após ajustes sazonais, para 640 mil, informou nesta quinta-feira (23) o Departamento de Trabalho do país.

A média móvel de pedidos feitos em quatro semanas - calculada para suavizar a volatilidade do dado - caiu 4.250, para 646.750. Nos EUA, as normas sobre o auxílio-desemprego variam de Estado para Estado e nem todos os desempregados têm direito ao benefício. Junto com o emprego, os trabalhadores e trabalhadoras também estão perdendo suas residências, de modo que o número de sem-tetos tem crescido de forma assustadora nas cidades da economia capitalista mais rica e poderosa do mundo, dando forma real a uma contradição aberrante: de um lado cresce o número de indivíduos sem-teto, enquanto de outro avançam os despejos e a quantidade de residências vazias, colocadas à venda, mas sem compradores, traduzindo a superprodução de imóveis.

Imóveis

Também nesta quinta-feira, a Associação Nacional de Corretores de Imóveis informou que as vendas de imóveis usados no país caíram 3% em março para a taxa anualizada de 4,57 milhões, de 4,71 milhões em fevereiro. O preço mediano para um imóvel usado em março foi de US$ 175.200, queda de 12,4% em relação ao preço mediano de março de 2008. O economista da associação Lawrence Yun disse que o mercado vem sendo impulsionado por compradores em busca do primeiro imóvel. Em comparação anual, as vendas caíram 7,1% em março. O volume de solicitações de empréstimos imobiliários encolheu 11% na semana terminada no dia 10 deste mês.

Lucros despencam

O lucro das empresas estadunidenses também afundou no pântano da crise. As 500 maiores empresas americanas amargaram uma queda de 85% nos seus lucros em 2008. Foi o pior resultado em mais de cinco décadas, de acordo com reportagem publicada domingo (19) na revista "Fortune".

O total dos lucros recuou de US$ 645 bilhões para US$ 98 bilhões. A seguradora AIG teve a pior perda de posições em ranking. "Os suntuosos lucros que os Estados Unidos registraram nos anos passados não formam parte de uma nova ordem mundial e sim uma bolha que, como o resto, explodiu com estrépito", afirma a revista.

"Os lucros caíram 84,7% desde o ano anterior, passando de US$ 645 bilhões para US$ 98,9 bilhões", detalha a revista, que acrescentou que 2008 "supôs o pior desempenho nos 55 anos de história da lista Fortune 500", que reúne as maiores empresas dos Estados Unidos.

Sem deixar lugar para surpresas, os setores mais atingidos foram o financeiro e o automotivo, com perdas de US$ 214,3 bilhões para o primeiro, dos quais US$ 99,3 bilhões correspondem a uma única firma, a seguradora AIG. A AIG, além disso, sofreu a pior queda da lista das 500 maiores, migrando do 13º posto para o 245º.

Recessão avança

A produção industrial dos Estados Unidos retraiu-se mais que o esperado em março, em 1,5%. As informações foram divulgadas pelo Federal Reserve, nesta quarta-feira (15). A produção atingiu o nível mais baixo desde dezembro de 1998.

No primeiro trimestre do ano, a queda, segundo taxa anualizada, foi de 20%, a maior da atual recessão, que começou em dezembro de 2007.

A queda da atividade em março marcou o sexto mês consecutivo de leitura negativa e segue o recuo revisado de 1,5% de fevereiro. Economistas consultados pela Reuters previam uma baixa de 1% para março.

Ociosidade

O nível de utilização da capacidade instalada ou de ociosidade da indústria caiu para 69,3% em março, o menor patamar da série histórica iniciada em 1967.

Conforme levantamento do Federal Reserve (Fed), em março, o setor manufatureiro verificou recuo de 1,7% na produção e o de mineração teve queda de 3,2%. Em serviços essenciais, no entanto, a atividade subiu 1,8%. Em fevereiro, todas as taxas foram negativas, em 0,6%, 1% e 7,7%, respectivamente.

Deflação

A depressão das atividades econômicas e o recuo conseqüente da taxa de consumo deprimiu os preços das mercadorias e está provocando deflação. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos caiu 0,1% em março, invertendo a direção registrada um mês antes, de avanço de 0,4%.

No acumulado dos 12 meses terminados em março, o indicador de preços teve deflação de 0,4% e o núcleo do índice, que desconta alimentos e energia, aumentou 1,8%. De acordo com o "Wall Street Journal", é o maior declínio anual desde agosto de 1955. A queda ficou em linha com a previsão dos economistas.

Riscos

A evolução crítica do nível de emprego e de outros indicadores levaram o economista Larry Summers, principal assessor econômico do presidente Barack Obama, a alertar que a economia americana continua correndo riscos importantes. "A evolução da economia é, como já disse, mais contrastada, mas é verdade também que devemos ser prudentes, já que o caminho da recuperação é longo, riscos importantes persistem e devemos estar preparados para enfrentar imprevistos", afirmou

Summers ao canal NBC.Summers fez referência à "persistência de problemas na economia mundial, assim como no setor imobiliário".

"Não sabemos e não podemos saber com certeza o que acontecerá, existem verdadeiros riscos ao longo do caminho. Ninguém está em condições de cantar vitória", complementou o assessor da Casa Branca, num recado que contraria opiniões otimistas divulgadas por algumas autoridades econômicas do império ao longo dos últimos dias.

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