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segunda-feira, 2 de março de 2009

O "despreparo" do sindicalismo

Meto minha colher no debate sobre o papel das centrais sindicais diante da crise. O assunto ganhou maior relevância a partir das mais de 4 mil demissões da Embraer. A Folha de São Paulo deste domingo mancheteou o tema e trouxe a polêmica como matéria principal, partindo de uma perspectiva em que as vítimas (os trabalhadores e o movimento sindical) se tornam réus.

Para se contrapor a essa visão reducionista e equivocada, destaco, em primeiro lugar, que é preciso reconhecer que o movimento sindical enfrenta maiores dificuldades em conjunturas marcadas pela desaceleração econômica, ampliação do desemprego e restrições democráticas. A luta dos trabalhadores condiciona e é condicionada por esses fatores, e não tem relação com o alegado despreparo das lideranças sindicais.

Todo dirigente sindical sabe, pela dura experiência, que nos momentos de crise é mais difícil mobilizar os trabalhadores. A agenda é mais defensiva - manutenção do emprego, do salário e dos direitos - do que ofensiva - manutenção e ampliação desses direitos. Esta é uma realidade objetiva, acima da vontade ou do "preparo" dos sindicalistas.

Em segundo lugar, o sindicalismo precisa, claro, ser independente dos governos, dos patrões e dos partidos. A independência deve ser seguida por uma correta avaliação do contexto político e econômico, sem perder de vista que, ao fim e ao cabo, o problema essencial do sindicalismo, no capitalismo, é como ter força diante dos patrões públicos e privados.
A correlação de forças é a base sobre a qual o sindicalismo deve definir suas táticas e orientar suas ações, sem cair em dois extremos: renunciar à luta e jogar todo o peso nas negociações ou, pelo contrário, abusar da retórica e cair em ações extremadas descoladas da realidade, que isolam e fragilizam os trabalhadores.

A literatura marxista já consagrou a tese de que, no capitalismo, independentemente de quem esteja no governo, o Estado é uma espécie de comitê gestor dos interesses da burguesia, contra os trabalhadores. Essa compreensão do papel da máquina do Estado não pode eludir a compreensão de que a ação sindical deve explorar todas as contradições, inclusive as possibilidades de atuação diante do Estado (Executivo, judiciário, Legislativo) .

A mobilização, o maior protagonismo dos trabalhadores e a capacidade de negociação política funcionam como freios aos intentos das classes dominantes e do "seu" Estado. A sagacidade política dos trabalhadores pode inibiar a tentativa de se jogar todo o ônus da crise nas costas de quem vive do trabalho. A disputa é desigual, mas esse movimento multilateral é, com certeza, o remédio mais adequado para dar um chega pra lá na crise.

Por último, mas não menos importante, cabe lembrar que os avanços democráticos conquistados no atual governo (legalização das centrais sindicais, relações civilizadas, valorização do salário mínimo, etc) devem ser destacados. Representam uma mudança de qualidade na relação do sindicalismo com o poder público, a partir da chegada ao governo do presidente Lula. O oposicionismo sectário diante desse quadro é um desserviço aos trabalhadores.

Dizer isso não significa atrelar a ação sindical ao governo nem abdicar da necessária independência. A situação atual mudou para melhor em relação àquela existente na época da chamada Era FHC. A inteligência do movimento reside em saber se aproveitar dessa situação para fortalecer sua organização e aumentar sua capacidade de mobilização.
Colocadas as coisas nessa visão mais geral, o movimento sindical pode definir com equilíbrio e maturidade as prioridades para enfrentar os atuais desafios. As centrais sindicais devem definir uma agenda de propostas e um plano de lutas para combater a crise em seu conjunto, sem se limitar as escaramuças com cada empresa.


A CTB - Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - tem insistido com o Fórum das Centrais com uma pauta básica: a redução das taxas de juros e dos spreads bancários, a ampliação do crédito e dos investimentos em setores de uso intensivo da força de trabalho, a defesa de mecanismos de proteção do emprego, do salário e dos direitos (como a redução da jornada de trabalho sem redução do salário e restrições às demissões imotivadas).
Essas propostas reúnem todas as condições de unir o movimento sindical brasileiro e abrir novas perspectivas de luta. Nessas horas, a unidade das centrais é um imperativo classista, para além das divergências políticas e de concepções. Ou todos nos salvamos ou naufrágio será geral!

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