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sábado, 22 de dezembro de 2012

entrevista wagner gomes“Nasce na cidade de Belo Horizonte a CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil”. Diante de 1.400 delegados, de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal, Wagner Gomes anunciava, às 20h34 de uma quarta-feira, 12 de dezembro de 2007, a criação da entidade. Na condição de seu primeiro presidente, após cinco anos de fundação, o dirigente sindical avalia como extremamente positivo o balanço desse período inicial. “A CTB sem dúvida conseguiu se fortalecer, se firmar e se consolidar”, afirma.

Natural de Araçatuba, interior do estado de São Paulo, Wagner Gomes tem 55 anos e é metroviário. Foi um dos fundadores do Sindicato dos Metroviários de São Paulo em 1983 e seu presidente de 1989 a 1995 e de 2007 a 2010. Integrou a Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de 1994 a 2007. É membro titular do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde 1997.
Nesta entrevista, ao fazer um balanço positivo sobre a trajetória da CTB, Wagner Gomes destaca o compromisso da Central em prol da unidade do movimento sindical, analisa como positiva a campanha em defesa da unicidade e da contribuição sindical, define como fundamental o papel dos trabalhadores rurais dentro da entidade e traça uma perspectiva bastante otimista para o futuro da CTB. Confira abaixo:

Visão Classista: Falar em avaliação positiva desses cinco anos de fundação da CTB é algo natural. Dessa forma, em sua opinião quais são os aspectos mais relevantes dessa trajetória?
Wagner Gomes: Desde que fundamos a CTB, tínhamos como objetivo principal ter uma central que pudesse não apenas opinar nas questões trabalhistas, mas também em questões mais amplas do Brasil. Entendíamos que essas duas características seriam fundamentais, pois precisamos estar antenados à vida política do país, prontos para opinar e participar, no sentido de ajudar o Brasil a se desenvolver e gerar mais empregos. Na questão sindical, a expectativa era a de que nossa Central pudesse ser mais um instrumento dos trabalhadores na defesa de suas bandeiras mais específicas. Com essas duas questões, estaríamos bem preparados para atuar no cenário nacional. Assim, felizmente o balanço é muito bom nesses cinco anos. A CTB sem dúvida conseguiu se fortalecer, se firmar e se consolidar. Hoje a CTB tem cerca de 900 sindicatos filiados, sendo que desse total há cerca de 600 já registrados no Ministério do Trabalho e Emprego.
Podemos dizer que foram cinco anos bem agitados. O debate foi intenso, passamos por uma disputa presidencial na qual apoiamos um projeto progressista para o Brasil e, no campo sindical, eu destacaria a luta pela política de valorização do salário mínimo como nossa maior conquista, com seu reajuste vinculado à inflação mais a metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Isso fez com que o salário mínimo ganhasse uma grande força e se tornasse, atualmente, um dos principais instrumentos de renda da classe trabalhadora.
Foram sem dúvida cinco anos de muita batalha. Não podemos esquecer também de lembrar que conseguimos nosso reconhecimento junto ao governo federal, mantendo filiados em nossa base mais de 9% do total de trabalhadores do país. Era uma meta que alcançamos e que pretendemos ampliar nos próximos anos.

Visão Classista: A unidade dentro do movimento sindical sempre foi uma bandeira defendida pela CTB. Pensando nesses cinco anos, a segunda Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) foi o ápice dessa política?
Wagner Gomes: Desde nossa fundação achávamos que os trabalhadores só teriam alguma chance de influir no destino do país se as centrais atuassem de forma unificada. Se cada uma das centrais ficasse para um lado, certamente não conseguiríamos muita coisa. Diante disso, propusemos uma plataforma de luta com questões nacionais e sindicais. Conversamos com as outras centrais no sentido de realizar um grande encontro, durante o qual aprovaríamos essa plataforma, que serviria como base para a unidade das centrais. E foi o que ocorreu na Conclat, em 2010, com a presença de cerca de 30 mil dirigentes sindicais de todo o país, aqui no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Aprovamos na ocasião a Agenda da Classe Trabalhadora, entregue no mesmo ano à candidata Dilma Rousseff. Até o presente momento, o conteúdo dessa Agenda segue norteando nossas atividades. Olhando para trás, a Conclat sem dúvida foi uma grande vitória para a classe trabalhadora.

Visão Classista: Outra bandeira fundamental da CTB tem sido a defesa da unicidade e da contribuição sindical. Como você avalia a campanha feita neste ano? Que resultados ela trouxe?
Wagner Gomes: Essa bandeira é praticamente uma cláusula pétrea para nós da CTB. A unicidade garante o mínimo de unidade para que os trabalhadores tenham apenas um sindicato por município. E a contribuição garante que os próprios trabalhadores sustentem suas entidades, a partir do pagamento de um dia de trabalho por ano. Essa bandeira é polêmica, mas se mostrou majoritária no movimento sindical. Hoje já vemos outras centrais defendendo a unicidade.
Nossa campanha veio em uma hora decisiva [março de 2012], pois foi quando o assunto começou a aparecer. A CUT, por exemplo, defendeu a chamada “liberdade sindical” e o fim da contribuição sindical, também a partir de uma campanha, mas me parece que os companheiros recuaram e vão deixar essa questão meio de lado. Isso ocorreu, no meu modo de ver, por conta da força que essas bandeiras têm. Sem elas, muitos sindicatos fechariam e não poderiam mais fazer a defesa dos trabalhadores.
Apesar de certa divulgação de que haveria um plano para acabar com a unicidade sindical, ainda não apareceu nada realmente de concreto nesse sentido. Sei que há companheiros que defendem essa proposta, mas não temos qualquer indício de que haja uma campanha de verdade contra a unicidade. Nossa campanha fortaleceu isso, pois centrais que não defendiam essas bandeiras agora passaram a defendê-las. Sem dúvida foi uma posição vitoriosa da CTB, pois ajudamos a firmar certas convicções em defesa daquilo que acreditamos. E entendo que agora no começo de 2013, com a publicação de uma nova Portaria do Ministério do Trabalho, em substituição à Portaria 186, nossa posição sairá ainda mais fortalecida.

Visão Classista: Nesta edição, estamos tratando na capa da questão da chamada “nova classe média”. Como você tem percebido esse debate? Até que ponto ele corresponde à realidade?
Wagner Gomes: Há uma polêmica muito grande, sem dúvida. Para mim, classe média era quem tinha casa própria, dois carros na garagem, apartamento na praia, filhos na escola particular, dinheiro no banco. Mas agora enquadraram na classe média cidadãos que ganham em torno de R$ 1100 – e isso para mim não é classe média. São pessoas que precisam lutar intensamente para pagar suas contas e que fazem parte da classe trabalhadora. É claro que durante os governos Lula e Dilma – que tiveram nosso apoio, mas também foram alvos de nossas críticas – o Brasil melhorou, mas ainda não consigo compreender que classe média é essa. Trata-se apenas de uma classe trabalhadora que teve uma pequena melhora. Minha convicção é a de que, dentro da questão central do capital, essa classe média recebe salários muito baixos.

Visão Classista: Pensando ainda nesse balanço de cinco anos de fundação, qual a importância conquistada pelos trabalhadores rurais dentro da CTB?
Wagner Gomes: A CTB é uma central de trabalhadores urbanos e rurais. Oito federações de trabalhadores rurais são filiadas à CTB e mais duas devem se filiar em breve. Temos na direção da Contag [Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura] vários companheiros cujas entidades também são filiadas à CTB. A Contag tem cerca de quatro mil sindicatos filiados e, por isso, é a mais legítima representante dos trabalhadores rurais. E nós estamos conseguindo ter um trabalho unificado. A Contag precisa ter suas bandeiras específicas e sua vida própria. Nesse sentido, as centrais devem apoiar suas iniciativas.
Podemos dizer que a maioria do movimento sindical rural está filiada à CTB. Trata-se de uma grande vitória, pois os companheiros rurais têm dado uma grande ajuda ao restante do movimento sindical. Nesse sentido, precisamos conhecer mais a realidade do campo e suas dificuldades para podermos ajudá-los e nos integrarmos. Ao olhar para esses cinco anos, podemos dizer que se trata de uma grande vitória política e organizativa ter essa proximidade e confiança dos trabalhadores rurais.

Visão Classista: Um tema que ainda precisará de muitas discussões internas é a situação das CTB’s estaduais. Que análise você faz dessa questão?
Wagner Gomes: Essa é uma das nossas grandes preocupações. Precisamos estimular o papel que as estaduais podem ter. Teremos nosso Congresso em agosto de 2013 e essa será uma das questões principais. Precisamos discutir como as estaduais podem ter uma vida política mais ativa, tornando a CTB mais conhecida em cada estado e passando a filiar mais sindicatos.
É claro que em algumas localidades existe um cenário diferente, onde as CTBs estaduais já possuem uma vida política muito intensa. Mas a maioria tem problemas e precisamos enfrentá-los. No Congresso iremos tomar decisões específicas em relação a isso. Estamos neste momento discutindo a criação de uma Secretaria de Organização específica para enfrentar essa demanda e para participar diretamente nos estados. Esse é um desafio para o futuro, pelo qual brigaremos para valer, no sentido de melhorar a situação das CTBs estaduais.

Visão Classista: Você acabou de mencionar o 3º Congresso da CTB. O que mais já pode ser adiantado sobre esse tão importante evento?
Wagner Gomes: Iremos fazer um balanço desse período de existência da CTB, ver quais pontos de pauta da Agenda da Conclat foram encaminhados e quais ainda não foram, discutiremos a situação internacional e nacional. Inclusive na véspera do congresso haverá um encontro de dirigentes sindicais internacionais, para ouvir um pouco os companheiros que atuam em outros países. Junto com a Federação Sindical Mundial (FSM), estamos fazendo um trabalho importante na América Latina, com o propósito de difundir o ponto de vista classista da entidade a que somos filiados.
Mas falando de forma mais específica do Congresso, iremos debater o que acertamos e erramos e, a partir disso, tocar a bola pra frente para sermos maiores do ponto de vista política e também pelo viés da quantidade de sindicatos.

Visão Classista: Passados os cinco primeiros anos de história da CTB, que perspectiva é possível vislumbrar para daqui a cinco anos? Qual papel a CTB terá no sindicalismo nacional?
Wagner Gomes: A tendência da CTB, sem dúvida, é de crescimento contínuo nos próximos anos. Ainda temos muitos sindicatos para filiar. Temos condição de aprovar no próximo Congresso uma meta de filiação, para chegarmos no 4º Congresso com o dobro de sindicatos filiados.
Achamos que a CTB ainda está no caminho da estruturação. Temos muito campo a desenvolver e também para fazer com que nossa Central jogue um papel político cada vez mais importante. Temos conseguido, a partir da unidade com as outras centrais, batalhar pelas principais causas do país. Isso tem gerado um respeito muito grande em relação à CTB – tanto no Brasil quanto no exterior. A CTB hoje é uma central que goza da confiança das outras entidades sindicais.
O futuro da CTB é de bastante otimismo. Nossa tendência é ser cada vez mais um instrumento valoroso para que a classe trabalhadora possa defender seus direitos e também para influenciar no destino do país, do ponto de vista do crescimento e das reformas necessárias. Acho que chegamos agora ao terceiro Congresso com um capital político importante.

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