São Paulo desigual
Quem assobia ao caminhar na escuridão não elimina a ausência de direção, podendo transmitir, falsamente, a segurança ao andar.
Essa é a conclusão do artigo de M. Magalhães Jr. publicado nesta Folha ("São Paulo não se acomoda", "Tendências/Debates", 26/7), que, ao buscar desqualificar o livre pensante, deixa de fazer frente à força das ideias que expressam as contradições atualmente vividas pelo Estado de São Paulo.
Pode revelar, contudo, somente o primitivismo e a contida inteligência de certos quadros dirigentes de instituições públicas paulistas.
Para que se possa retornar ao entendimento acerca das contradições presentes na recente trajetória paulista, avança-se no tema da desigualdade socioeconômica territorial. A começar pelo fato de São Paulo assumir a posição de vice-liderança no conjunto dos municípios brasileiros em desigualdade na repartição da riqueza no território medido pelo PIB (Produto Interno Bruto). Em 1996, ocupava o terceiro posto.
O desbalanceamento sobressai diante da força das grandes cidades metropolitanas, que absorvem cerca de 60% do total da população; da debilidade dos pequenos municípios, responsáveis por quase 1/3 dos habitantes; e da vulnerabilidade da área rural, com menos de 10% do conjunto dos residentes no Estado, segundo o IBGE.
No conjunto das áreas metropolitanas, a taxa de pobreza alcança, em 2008, 13,2% dos seus habitantes, enquanto 29,4% dos residentes na zona rural vivem na condição de pobreza absoluta.
Em relação à remuneração média auferida pelos ocupados nas áreas metropolitanas, os trabalhadores do meio rural recebem o equivalente a apenas 52,5%, enquanto os ocupados em pequenos municípios percebem 75,2%.
A diferença entre os rendimentos médios cresceu em relação ao ano de 1999, posto que o conjunto dos ocupados do campo recebia o equivalente à quase 60% da renda dos trabalhadores nos grandes centros urbanos.
E o estímulo governamental à maior concentração econômica em limitado espaço territorial faz com que o PIB dos pequenos municípios decresça sua participação relativa frente ao vigor das áreas metropolitanas. Em 1999, por exemplo, o PIB do conjunto dos pequenos municípios equivalia a somente 11,2% do PIB dos centros urbanos, caindo, em 2007, para 9,2%.
Há ainda os equívocos no sistema educacional e na disseminação heterogênea e insuficiente das novas tecnologias de informação e conhecimento. No meio rural, quase 10% da população é analfabeta, enquanto nos grandes centros urbanos essa taxa atinge 3,5%.
Menos de 37% das crianças com até cinco anos frequentam a escola básica no campo, ao contrário de quase 45% que o fazem nas metrópoles. Na faixa etária de 15 a 17 anos, 71% encontram-se matriculadas no ensino médio nos grandes municípios urbanos e menos de 60% no meio rural.
No segmento etário de 18 a 24 anos, a taxa de frequência líquida no ensino superior atinge 20,3% nos centros metropolitanos e apenas 8,5% na zona rural.
Quanto às novas tecnologias de informação, no meio rural somente 57,6% têm acesso à internet e 28,1% possuem computador, enquanto nos grandes centros urbanos oito em cada dez habitantes acessam a internet e 51,4% possuem computador.
Essas e outras assimetrias socioeconômicas que condicionam a situação mais recente do Estado paulista precisam sofrer urgente e ampla reação pública articulada e integrada, capaz de planejadamente superar traços prevalentes do subdesenvolvimento. Caso contrário, o fosso que separa o povo paulista, infelizmente, tende a aumentar.
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