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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

“Crise econômica é oportunidade para que trabalhadores compreendam sua verdadeira força”
 
 Diretor de Relações Internacionais da Fitmetal afirma que crise econômica pode ser encarada como fato positivo e que internacionalização do sindicalismo é a base para reunir forças necessárias na luta contra o sistema hegemônico excludente
 Francisco José Sousa e Silva é diretor de Relações internacionais da Federação Intersindical dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) e também Secretário de Organização da UIS MM / FSM, um agrupamento internacional de organizações sindicais do ramo da mineração e metalurgia, ligado a Federação Sindical Mundial (FSM). Ele participado ativamente na articulação e organização do maior congresso mundial de trabalhadores e trabalhadoras da metalurgia e mineração, que será sediado no Brasil.

 Realizado pela Fitmetal em parceria com a CTB, o II Congresso UIS MM será realizado no Rio de Janeiro, nos dias 24 e 25 de outubro, reunindo importantes líderes do setor e reunirá 32 organizações internacionais, totalizando 23 países: Cuba, Índia, China, Itália, Chipre, Uruguai, Colômbia, Chile, México, Portugal, Bolívia, Paquistão, Egito, Congo, Gabão, Somália, África do Sul, País Basco, País Valenciano, Galícia, Bielorrússia, República Dominicana. Além do Brasil, que será representado por várias entidades sindicais do país.

 Na entrevista, Francisco discute o desafio para se criar um sindicalismo internacionalizado, o efeito aglutinador que a crise econômica tem entre trabalhadores e trabalhadoras e os desafios para a integração latino-americana e a luta contra o imperialismo. Além disso, ele salienta os rumos que o II Congresso UIS MM pode indicar para metalúrgicos e mineiros de todo o mundo.


Como você definiria a situação dos trabalhadores metalúrgicos e mineiros no Brasil? Em que um movimento sindical internacionalizado poderia nos ajudar?

Apesar dos avanços e do crescimento da atividade industrial no País, a situação dos trabalhadores requer muita mobilização e luta. Questões relacionadas à jornada de trabalho, à saúde do trabalhador (a) e segurança, a valorização do trabalho, entre outras, devem estar em pauta permanente. Embora estejamos falando de ramos de atividades distintas, existe a compreensão que para a classe operária as questões acima citadas são comuns, dada a contradição do sistema capitalista, independente do ramo de atividade nesse setor da economia. A internacionalização do sindicalismo nesse sentido é a base para que se possam reunir as forças necessárias ao movimento dos trabalhadores e trabalhadoras na luta contra o sistema hegemônico excludente. A questão das empresas transnacionais é um bom exemplo, sabe-se que a realidade da relação capital versus trabalho é diferente quando se observa as áreas de produção dessas organizações que estão espalhadas pelo mundo. E, nesse caso, a unidade e solidariedade da classe trabalhadora, atuando de forma conjunta por intermédio do conjunto das organizações sindicais, é fundamental para aumentar a possibilidade da resolução dos problemas apresentados. Por fim, o internacionalismo é um sinal de identidade para os sindicatos classistas e para nossa organização, vamos continuar impulsionando a luta internacionalista e principalmente globalizando as denuncias relacionadas às práticas anti-sindicais e a violência praticada pelos empresários com apoio de governos reacionários, como os assassinatos de ativista sindicais nos países do mundo onde isso acontece.

O Brasil não enfrentou as grandes consequências da crise econômica. Qual o efeito dessa situação no movimento sindical brasileiro?

Se por um lado ajuda o movimento a intensificar os avanços relacionados às necessidades dadas pelo momento de estabilidade econômica que o nosso País atravessa, por outro lado cria certa acomodação na massa operária, o que não é positivo se considerada a importância de se manter a mobilização ativa, pois em tempos de crise do capital não se deve subestimar a capacidade de virulência do sistema hegemônico excludente que barbariza hoje na Europa. No caso brasileiro, o movimento sindical não deve se limitar a contemplar e/ou apoiar as iniciativas que apontam para o crescimento por conta do PAC ou da nossa inserção no bloco político-econômico (BRICS), colocando o Brasil como parâmetro regional e internacional na América Latina. Vale lembrar que a crise econômica, juntamente com os problemas que fazem parte do mundo do trabalho e que são impostos sobre a massa operária, constituem uma grande oportunidade para os trabalhadores e trabalhadoras a compreender a sua verdadeira força, para organizar sua própria luta, para plantar as suas próprias prioridades e suas próprias necessidades e para cultivar o seu próprio caminho para o desenvolvimento social e econômico.

Diversos países virão para o Brasil para o Congresso da UIS Metal. São países diversificados, com realidades distintas, embora já marcados pela globalização e internacionalização da economia. Como construir articulações e reivindicações comuns a todos esses países? O que se pode aprender com a realidade dos metalúrgicos e mineiros de outros países?

A ideia é construir a organização de forma coletiva, contemplando a maior abrangência possível de entidades dos cinco continentes. Sabendo que existem problemas localizados por regiões continentais para além das questões comuns relacionadas à crise global do capitalismo, estamos pensando na criação de secretarias continentais, às quais se priorizaria as questões locais (dentro das linhas de ação geral da UIS MM) e buscando organizar o debate sobre as questões gerais a partir do Comitê Executivo. A UIS MM se apresenta, nesse contexto, como um agente ativo na luta contra o sistema atual de globalização neoliberal, que prioriza o capital e o dinheiro em vez dos trabalhadores e trabalhadoras, seja metalúrgico ou mineiro. Vamos continuar lutando contra as privatizações, pela igualdade de gênero, contra a destruição do meio ambiente, pelos direitos dos povos e, portanto, contra a imposição da ordem imperialista. O nosso principal desafio para os próximos anos é construir pontes entre os diferentes sindicatos classistas que lutam contra o sistema capitalista e superar as divisões históricas entre sindicatos que compartilham a mesma visão de realidade, com o objetivo de dar a resposta mais coordenada possível.

Uma questão que o Congresso nos coloca é a integração latino-americana. Temos muito contraste, porém o que chama a atenção é a ascensão de governos progressistas ao mesmo tempo em que temos uma resposta imperialista, formando um bloco liderado por Chile e Peru. Como a união de forças pode construir uma América Latina mais livre? O senhor acredita que essa emancipação tem que vir de dentro do país ou é necessário articular forças conjuntas?

A articulação de forças é a chave para o embate contra a intervenção imperialista na América Latina. A classe trabalhadora precisa estar organizada para fazer a defesa de projetos nacionais de desenvolvimento que possam vir a assegurar um aumento do investimento em infraestrutura para fazer a integração física possível. Nesse sentido, a UIS MM deve continuar apoiando a integração antineoliberal, dentro do espírito da ALBA [Aliança Bolivariana para as Américas], democrático, soberano e solidário, no caminho do socialismo, comanda pelos Estados e não pelo mercado, promovendo a redistribuição de renda e bem-estar social para todos os estados da nossa América. Considerando que a soberania faz parte desse conjunto importante, a participação da classe trabalhadora, através da representação sindical e demais movimentos sociais, nos espaços de aglutinação de ideias progressistas que viabilizem um projeto de um novo mundo com uma arquitetura financeira regionalizada como alternativa ao FMI e ao Banco Mundial. É preciso estar atento e participar ativamente dos processos de luta provenientes de organizações como a FSM (Federação Sindical Mundial), a UIS Metal e de fóruns como o ESNA (Encontro Sindical Nossa América) entre outros, que reúne anualmente centena de organizações sindicais e na prática ajuda a levar o protagonismo político da classe trabalhadora e do sindicalismo.

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