Um vice improvisado para José Serra
A novela do vice do candidato oposicionista José Serra (PSDB) chegou ao fim dando a nítida impressão de improvisação e falta de alternativa. A tentativa tucana de impor uma chapa puro sangue, com o senador paranense Álvaro Dias, foi o estopim da mais recente crise na campanha de Serra, e o DEM quase rachou o núcleo da aliança da direita, formada justamente por estes dois partidos.
Depois de muita conversa entre os cardeais dos dois partidos, a solução saiu com a grife do ex-prefeito carioca Cesar Maia: o desconhecido deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ). Foi uma decisão arriscada mas a pergunta é: havia outra? Um sinal claro das dificuldades foi o comentário do jornalista Merval Pereira, que não morre de simpatias por Lula ou Dilma. Em sua coluna em O Globo ele chamou a escolha de "jogada marqueteira" pois a história de Índio Costa "não tem a menor consistência para alçá-lo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país". E, além disso, é suspeito de envolvimento em irregularidades investigadas pela CPI da Merenda Escolar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Por uns minutinhos a mais na televisão, o PSDB e José Serra renderam-se às imposições do DEM, partido que vive um declínio acelerado (carcomindo, como se dizia antigamente). E que precisa de um cargo visível, como a vice-presidência da República, para tentar uma sobrevida disfarçado de "novo", "força jovem" e imagens semelhantes. É preciso saber se os políticos de sua base, os muitos prefeitos que ainda controlam pelo país afora, vão aderir ao arranjo feito em hotéis de luxo de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, ou seguir seu lendário instinto de sobrevivência política, deixando a coligação nacional demo-tucana à deriva.
Além da sensação de improvisação logo no começo oficial da campanha eleitoral, José Serra vai também deixando às claras sua cara e seu programa. Na sabatina de quinta feira (dia 1), no templo dos latifundiários, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ele atacou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) com as garras dos conservadores e da direita. É movimento "que se diz de reforma agrária para na verdade usar a ideia da reforma agrária para uma mudança de natureza revolucionária socialista no Brasil", disse.
Palavras que soaram docemente, com certeza, aos ouvidos atentos daqueles que estavam no auditório da entidade dirigida pela senadora Katia Abreu (DEM-GO) e que reúne a nata dos grandes monopolistas da propriedade da terra.
Pois é, com um vice que conheceu durante o jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, e com o qual acumula apenas uns quinze minutos de conversa, e investindo contra um movimento social como o MST, Serra está mesmo em dificuldades, agravadas pelas sucessivas pesquisas de opinião que revelam uma perda de consistência de sua candidatura inimaginável há poucas semanas.
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