Lula diz que pânico contaminou economia brasileira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na segunda-feira que o pânico de uma parcela da população foi uma das causas da contaminação da economia brasileira pela crise financeira global. Para o presidente, notícias sobre a situação dos Estados Unidos, Europa e Japão influenciaram os consumidores.
Em seu programa semanal de rádio, o presidente disse que, “sem nenhum otimismo”, vê melhora na situação da economia brasileira. Para ele, o fato é reconhecido também por instituições multilaterais de financiamento, por governos e pelo sistema financeiro internacional.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (27) que, “sem nenhum otimismo”, vê melhora na situação da economia brasileira. “Estamos mostrando que o Brasil estava mais preparado”, disse Lula em seu programa semanal de rádio Café com o Presidente.
Para ele, o fato é reconhecido também por instituições multilaterais de financiamento, por governos e pelo sistema financeiro internacional.
“Precisamos ter tranqüilidade, continuar trabalhando com muita seriedade, saber que a crise é profunda, que é delicada e que o Brasil precisa continuar agindo da forma que está agindo para que a gente sofra menos e possa sair rapidamente dela, fazendo com que o Brasil dê um salto de qualidade.”
De acordo com o presidente, dados apresentados pela indústria automobilística brasileira – que apresentou produção maior em março deste ano do que no mesmo período do ano passado – justificam a recuperação da economia. Ele destacou ainda a decisão de que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) passem a funcionar em dois turnos, alternativa que ajudou a gerar empregos.
Para Lula, o que existe são “medidas concretas” para motivar o brasileiro a consumir, o comércio a vender e a indústria a produzir. Ele admitiu, entretanto, estar “torcendo” para que a crise nos Estados Unidos, na Europa e no Japão diminua, uma vez que representam grandes exportadores, produtores e consumidores.
“Se eles estiverem bem, a economia mundial tende a estar melhor. E o Brasil, eu posso assegurar, continua sendo um país com maiores possibilidades de sair dessa crise muito fortalecido.”
Leia abaixo a íntegra do programa Café com o Presidente desta segunda-feira:
Presidente Lula faz análise do atual momento econômico
Apresentador: Olá você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora o programa Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Olá, presidente, como vai? Tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente, alguns indicadores econômicos mostram que o Brasil dá sinais de melhora. Podemos afirmar que o país entrou em um processo de recuperação?
Presidente: Luciano, primeiro é sempre importante a gente reiterar ao povo brasileiro que a crise chegou ao Brasil mais tarde do que chegou em outros países e a crise chegou, eu diria, muito mais por conta da ausência de crédito no mercado internacional.
Nós tínhamos trinta por cento do crédito brasileiro tomado em dólares por empresas brasileiras, e que de repente esses dólares desapareceram, as empresas brasileiras se voltaram para o mercado interno, e nós não tínhamos dinheiro pra todo mundo. Além disso, os bancos ficaram seletivos e, pelo fato de ficarem seletivos, eles começaram a fazer mais exigências para evitar riscos e aumentaram o spread bancário. Isso causou um problema muito sério. Uma outra coisa que aconteceu, e que eu não canso de repetir, é que houve um pânico na sociedade.
Ou seja, de tanto se falar em crise e mostrar o que estava acontecendo nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, houve, por parte de uma parte dos brasileiros, um certo bloqueio na compra de produtos que numa situação normal eles continuariam comprando.
Ora, quando o governo se deu conta disso, o governo tomou todas as medidas necessárias para que a crise fosse amenizada e começássemos a estirpar a crise no Brasil. Você está lembrado que nós tomamos a primeira medida de liberar o compulsório para que melhorássemos o financiamento, depois nós aportamos cem bilhões de reais ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), depois nós tomamos medida para ajudar a indústria automobilística voltar a produzir e, consequentemente, voltar a vender, porque esse era um problema sério.
O Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa em São Paulo, comprou cinqüenta por cento do Banco Votorantim. Colocamos dinheiro para ajudar os bancos pequenos a voltarem a funcionar o setor produtivo, sobretudo o capital de giro, colocamos dinheiro na agricultura brasileira, mantivemos todas as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e aumentamos os investimentos da Petrobras, numa demonstração de que era necessário para enfrentar a crise fazermos mais investimentos, termos mais ousadia do que se teve em qualquer outro momento da história do Brasil.
Você está lembrado que acabamos de lançar um programa habitacional de um milhão de casas para ajudar a reativar a indústria da construção civil e, ao mesmo tempo, para diminuir o déficit habitacional no Brasil.
Essas coisas são extremamente importantes, porque, antigamente, quando tinha uma crise, o quê acontecia? Acontecia que o governo parava de investir, aí aumentava-se juro, aumentava-se spread bancário, ou seja, e o Brasil entrava em crise porque diminuiu o emprego. Nós tomamos todas as medidas para evitar que isso acontecesse. Nós estamos, sem nenhum otimismo, vendo melhoras na situação da economia brasileira.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula, hoje fazendo uma avaliação da economia. Presidente, o senhor mostrou aí um retrato de como a crise atingiu o nosso país e as medidas adotadas para fortalecer o Brasil. Que números mostram a melhora da economia?
Presidente: Olha, os números que mostram a melhora da economia são, por exemplo, a indústria automobilística brasileira. Ela voltou a produzir em março mais do que ela produziu em março do ano passado.
A Caixa Econômica Federal contratou no primeiro trimestre o dobro do que ela contratou no primeiro trimestre do ano passado. Os programas que nós lançamos, e o fato de nós termos decidido que várias obras do PAC vão começar a trabalhar em dois turnos, pra gente gerar mais empregos, e o crescimento do varejo, ou seja, o varejo no Brasil não decresceu. Ele cresceu. As pessoas estão comprando.
Mais recentemente nós anunciamos a redução de imposto para geladeira, fogão, ou seja, numa demonstração de que o governo está com muita disposição de fazer com que a economia volte a crescer rapidamente, porque não existe milagre. O que existe são medidas concretas para motivar o consumidor brasileiro a consumir, o comércio vender e a indústria produzir. Isso vai gerar emprego, vai gerar renda.
Obviamente, que, ao mesmo tempo, Luciano, nós estamos torcendo para que a crise nos Estados Unidos diminua, para que a crise na Europa diminua, para que a crise no Japão diminua, porque são países, sabe, grandes exportadores, grandes produtores, grandes consumidores, e se eles estiverem bem, a economia mundial tende a estar melhor.
E o Brasil, eu posso assegurar, continua sendo um país com maiores possibilidades de sair dessa crise muito fortalecido, porque a crise chegou aqui, mas não chegou na intensidade que ela está nos Estados Unidos ou que ela está na Europa. Ou seja, nós estamos mostrando que o Brasil estava mais preparado.
E isso não é reconhecido por mim. Isso é reconhecido por todas as instituições multilaterais de financiamento, é conhecido por todos os governos, é conhecido pelo sistema financeiro internacional, de forma que nós precisamos ter tranqüilidade, continuar trabalhando com muita seriedade, saber que a crise é profunda, que é delicada e que o Brasil precisa continuar agindo da forma que está agindo para que a gente sofra menos e possa sair rapidamente dela, fazendo com que o Brasil dê um salto de qualidade.
Apresentador: Muito obrigado presidente Lula. Até a semana que vem.
Presidente: Obrigado, você, Luciano, e até a próxima semana.
Apresentador: O próximo Café com o Presidente vem na próxima segunda-feira. Até lá.
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