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quinta-feira, 19 de março de 2009

Contag: uma lição de unidade

Realizado nos dias 10 a 14 de fevereiro em Brasília, o 10º Congresso da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) assumiu uma dimensão histórica por suas resoluções e deixou ao conjunto da classe trabalhadora e do movimento sindical brasileiro uma preciosa lição de unidade. Temas polêmicos, como o do desligamento da CUT, foram abordados de frente e solucionados num clima democrático sem comprometer a união de todas as correntes que atuam na entidade em defesa dos interesses maiores da categoria, que soma mais de 20 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, pequenos produtores da agricultura familiar e assalariados.

A união foi selada na engenhosa composição de uma chapa única, eleita na plenária final realizada sábado (14), com 97% dos votos e cabe reconhecer que o ex-presidente Manuel de Serra, agora tesoureiro, foi um dos fiadores da unidade. O gaúcho Alberto Broch, novo presidente da confederação, é também dirigente da Fetag-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul), filiada à CTB. Por decisão dos congressistas, a Contag não é mais filiada à CUT, tornou-se autônoma em relação às centrais, mas isto não significa negar ou ignorar a relevância dessas nas lutas políticas e sociais em curso no país.

Broch fez questão de frisar, em entrevista aos meios de comunicação após o pleito, que “hoje a base da Contag está ligada a duas centrais” (referindo-se à CUT e CTB) “e vamos trabalhar com as duas”, tendo por norte, conforme explicou, a luta por um novo projeto de desenvolvimento rural, fundado no crescimento sustentável e na solidariedade em oposição ao modelo predatório e neoliberal do chamado agronegócio.

Nova correlação de forças

A desfiliação da CUT refletiu não só uma nova correlação de forças no sindicalismo rural, em que se destaca a crescente influência da CTB, mas também foi uma resposta a concepções e práticas contrárias ao princípio constitucional da unicidade sindical de algumas entidades cutistas, criadas artificialmente com o propósito de desmembrar as bases do sindicalismo rural, separando a agricultura familiar dos assalariados e ameaçando a integridade e unidade do sistema Contag.

A unicidade foi aprovada por unanimidade pelos congressistas. Mesmo lideranças que advogam concepções contrárias, os partidários do pluralismo sindical, não ousaram se opor em plenário a esta norma legal, prevista na CLT e na Constituição. E não é difícil perceber a razão. A vida tem demonstrado que, concretamente, nas condições do Brasil, unicidade e unidade sindical caminham de mãos dadas e ainda que as investidas contra a unicidade na realidade encobrem obscuros e inconfessáveis interesses divisionistas. Esta é a razão pela qual a defesa da unicidade sindical é uma bandeira histórica da Contag, assim como do sindicalismo classista e da CTB.

Nova Conclat

As lideranças sindicais do campo revelaram admirável maturidade e oferecem aos aliados das cidades uma lição de unidade que é particularmente preciosa neste momento de crise do capitalismo internacional e precisa ser assimilada pelas centrais sindicais. Acima dos problemas pessoais e das diferentes ideologias e concepções políticas e sindicais situam-se os interesses imediatos e futuros da nossa classe trabalhadora. É em nome desses interesses que se impõe a unidade.

A CTB considera que a realização de uma nova Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), com o conjunto do movimento sindical brasileiro, com o objetivo de debater a crise, um novo projeto de desenvolvimento e uma plataforma conjunta tendo em vista as eleições de 2010, pode ser um atalho no caminho para fortalecer a união. Mas, tal proposta evidentemente depende de uma vontade política comum, à qual poderemos chegar se formos capazes de valorizar a lição legada pelo 10º Congresso da Contag.
Wagner Gomes Presidente da CTB

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