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quinta-feira, 26 de março de 2009

China denuncia mentalidade de 'Guerra Fria' dos EUA

O governo chinês criticou nesta quinta-feira (26) o relatório do Pentágono que afirma que o poderio militar da China estaria afetando o equilíbrio militar na Ásia. Um porta-voz do Ministério do Exterior chinês disse que se trata de uma "grande distorção dos fatos" e pediu o fim da "mentalidade da Guerra Fria".

Em seu relatório anual para o Congresso americano, o Pentágono afirmou que a China está desenvolvendo tecnologia nuclear, espacial e cibernética que pode levar a "divisões" na região. O argumento do órgão soa cínico e hipócrita para quem está informado de que o orçamento militar dos EUA, superior a 530 bilhões de dólares, representa cerca de 50% das despesas bélicas em todo o mundo e é 7,5 vezes maior do que os gastos estimados para a China neste ano, de US$ 70 bilhões.

Crise da hegemonia americana

O investimento em armas e nas guerras imperialistas contra o Iraque e o Afeganistão, que eleva o déficit da Casa Branca e de resto é realizado com dinheiro alheio, está conduzindo as nações a uma perigosa corrida armamentista. O relatório do Pentágono acirra as contradições que permeiam as relações entre as duas maiores potências do planeta, envenenadas pelo incidente envolvendo um navio da Marinha dos EUA que tinha penetrado ilegalmente em águas chinesas para espionar no início deste mês e, mais recentemente, pela proposta de substituição do padrão dólar como unidade de referência dos preços e reserva de valor da economia internacional, feita pelo Banco Central da China.
Os atritos refletem a crise da hegemonia econômica e política dos EUA no mundo, decorrente da decadência da indústria norte-americana e do desenvolvimento desigual das nações, que vem favorecendo a ascensão de outras potências, em especial da China. A crise do capitalismo estadunidense, que se transformou numa crise mundial, está evidenciando o declínio do império e exacerbando a concorrência entre as nações e a disputa pelo poder global.

Falácia

O Pentágono manifestou preocupação de que os investimentos da China em novas tecnologias militares poderiam ser usadas em disputas territoriais na Ásia e criticou o governo chinês pela suposta falta de transparência na divulgação de seus gastos militares e política de segurança. Pequim não aceita a crítica.
"O relatório divulgado pelos Estados Unidos continua a destacar a falácia da ameaça militar chinesa", disse à imprensa o porta-voz chinês Qin Gang. Segundo ele, o governo chinês já se queixou ao governo americano e pediu a Washington que "cesse a mentalidade de Guerra Fria... para evitar novos danos à relação entre os dois países e os dois Exércitos".

Projeção de poder

Segundo o relatório do Pentágono, a China vem conseguindo aumentar seu arsenal de armas sofisticadas, embora capacidade chinesa de sustentar seu poder militar à distância permaneça limitado. Os belicistas estadunidenses alegam que algumas dessas novas armas poderiam ajudar a China a participar de missões de paz internacionais, mas afirmam que elas também podem permitir à China "projetar poder e garantir acesso a recursos que reforçariam suas reivindicações sobre territórios disputados".
O país asiático estaria desenvolvendo armas que poderiam desativar satélites espaciais de países inimigos, aumentar sua capacidade em armas eletromagnéticas e cibernéticas e continuar a modernizar sua indústria nuclear. O relatório também aponta o aumento de mísseis de curta-distância sendo colocados do outro lado de Taiwan, apesar de ter diminuído a tensão com a China nos últimos meses.
Apesar de elogiar o crescimento de uma China próspera, estável e pacífica, o relatório afirma que "há muita incerteza em torno do futuro caminho da China, particularmente sobre como esta expansão militar pode ser usada" e estima que os gastos militares da China em 2008 foram praticamente o dobro de dez anos atrás.

Deslocamento do poder econômico

O governo chinês rebate acentuando que as despesas com segurança têm fins defensivos e são notoriamente pequenos se comparados aos norte-americanos. A China já havia reclamado de relatórios anteriores do Pentágono que colocam o país como ameaça militar, apesar de o governo chinês estar comprometido com "um crescimento pacífico".
De acordo com o especialista em Defesa e Segurança da BBC, Rob Watson, as forças armadas chinesas estão deixando de ser um Exército pobre, de camponeses, para se tornar uma força militar moderna e cada vez mais sofisticada, mas permanecem dúvidas sobre seu nível de treinamento e coordenação, bem como sobre sua capacidade de guerra. As mudanças em curso na esfera militar refletem a alteração da correlação de forças entre as grandes potências no plano da produção, com o deslocamento da dinâmica industrial e do poderio econômico do chamado Ocidente para o Oriente, expressão da decadência dos EUA e ascensão da China.

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